Diagnóstico precoce: Jessie J revela câncer de mama em estágio inicial
Os casos de câncer entre pessoas com menos de 50 anos aumentaram quase 80% nas últimas três décadas; o de mama, especificamente, lidera esse crescimento
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Siga noA cantora britânica Jessie J revelou na última terça-feira (3/5) que foi diagnosticada com câncer de mama em estágio inicial. Aos 37 anos, a artista comunicou aos fãs que fará uma pausa breve na carreira para se dedicar ao tratamento e à cirurgia, prevista para este mês de junho.
O anúncio foi feito por meio de um vídeo publicado em suas redes sociais. Na gravação, Jessie reforça a importância do diagnóstico precoce e compartilha, de forma sincera, o impacto da notícia. “Estou enfatizando o termo ‘estágio inicial’. Câncer é uma droga, de qualquer forma, mas estou me segurando no termo ‘estágio inicial’. Tenho entrado e saído de testes durante esse período”, contou.
Jessie revelou que estava trabalhando muito, mas que decidiu compartilhar o diagnóstico com o público por entender que desabafar já a ajudou em outros momentos. “Fico de coração partido por saber que tantas pessoas estão ando por algo assim ou até pior. Isso é o que me mata. Só queria que vocês soubessem. Não era algo que eu planejava”, disse.
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O caso de Jessie reforça um alerta: o câncer tem atingido cada vez mais pessoas jovens. Dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da American Cancer Society (ACS) mostram que, nos últimos 30 anos, os casos de câncer entre adultos com menos de 50 anos aumentaram quase 80% no mundo.
Uma análise divulgada no início deste ano pela Sociedade Americana do Câncer também revela uma tendência preocupante: o câncer está afetando cada vez mais mulheres jovens e de meia-idade. O estudo, que projeta mais de dois milhões de novos casos da doença em 2025 nos Estados Unidos, indica uma mudança significativa no perfil dos pacientes, especialmente em relação ao câncer de mama.
De acordo com o relatório, seis dos dez tipos mais comuns de câncer na população norte-americana estão em ascensão, com destaque para os cânceres de mama e colo de útero. Entre 2012 e 2021, a incidência do câncer de mama aumentou cerca de 1% ao ano na população geral, mas o crescimento foi ainda mais expressivo - 1,4% ao ano - entre mulheres com menos de 50 anos.
"O que mais chama atenção neste relatório é a mudança no perfil da doença. O câncer, que tradicionalmente era visto como uma doença do envelhecimento, e predominantemente masculina, está afetando cada vez mais mulheres jovens e em idade reprodutiva", afirma o oncologista Daniel Gimenes, da Oncoclínicas.
Novos padrões
Os pesquisadores apontam diversos fatores que podem estar contribuindo para esse aumento, incluindo:
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Mudanças nos padrões de fertilidade: adiamento da maternidade
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Estilo de vida: aumento do consumo de álcool, sedentarismo
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Fatores biológicos: exposição prolongada ao estrogênio e menarca precoce
O adiamento da maternidade ou a decisão de não ter filhos, por exemplo, pode reduzir o efeito protetor que a gravidez e a amamentação exercem contra o câncer de mama.
Outro dado alarmante revelado pela pesquisa é que, desde 2021, a incidência de câncer de pulmão em mulheres com menos de 65 anos superou a dos homens na mesma faixa etária: 15,7 casos por 100.000 mulheres, contra 15,4 por 100.000 homens.
"Estamos observando uma confluência de fatores que podem explicar esse aumento. As mudanças no estilo de vida das mulheres nas últimas décadas - incluindo o adiamento da maternidade, o aumento do consumo de álcool e alterações nos padrões alimentares - parecem estar contribuindo para este cenário", explica Daniel.
No Brasil, a situação merece atenção especial devido às características específicas da população e do sistema de saúde. "Nossa população é relativamente jovem em comparação com países desenvolvidos, e enfrentamos desafios adicionais como as disparidades regionais no o ao diagnóstico precoce e tratamento", destaca o oncologista.
A pesquisa também revelou disparidades raciais significativas, com populações negras e nativas apresentando taxas de mortalidade duas a três vezes maiores que a população branca para alguns tipos de câncer - uma realidade que também encontra paralelos no contexto brasileiro.
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Diagnóstico precoce
Apesar do cenário preocupante, a ACS ressalta que aproximadamente 40% dos casos de câncer podem ser evitados com mudanças no estilo de vida. "Manter um peso saudável, praticar atividade física regularmente, moderar o consumo de álcool e não fumar são medidas que podem reduzir significativamente o risco de desenvolver a doença", orienta.
O diagnóstico precoce também é fundamental. "O aumento de casos em mulheres jovens reforça a importância da realização de exames periódicos e da atenção aos sinais do corpo. Mesmo antes da idade recomendada para mamografia de rotina, é imperativo que as mulheres contem com acompanhamento médico e não deixem de buscar aconselhamento especializado em caso sinal de alerta. Toda e qualquer alteração percebida deve ser investigada por um profissional de saúde", alerta o oncologista.
Apesar do aumento nos casos, os avanços no tratamento trazem perspectivas positivas. "Temos hoje tratamentos muito mais eficazes e personalizados. O diagnóstico precoce, aliado às novas terapias disponíveis, permite que muitos pacientes mantenham sua qualidade de vida durante e após o tratamento.”
No entanto, o especialista enfatiza a necessidade de adaptar os sistemas de saúde a esta nova realidade: "É fundamental que os sistemas público e privado de saúde se preparem para essa nova realidade, com estratégias que incluam desde a conscientização até o o facilitado a exames preventivos, especialmente nas regiões mais vulneráveis do país."